Minutos de Paz !

quinta-feira, março 28, 2024

Solidão e Jesus - Joanna de Ângelis

 


Solidão e Jesus

Joanna de Ângelis



Quando as amarguras da jornada te assinalem a alma, jungindo-te ao carro sombrio onde a solidão se demora algemada, recorda o Mestre Crucificado, em terrível abandono.



Onde os amigos d'outrora, as multidões saciadas e os corações socorridos?



Começara o ministério, a que se entregaria integralmente, nas alegres bodas de Caná, e encerrava-o numa Cruz, esquecido dos beneficiários constantes que O envolviam em álacre vozerio.



Sempre estivera o Mestre cercado pelas criaturas...



Pregara nas cercanias formosas das cidades e das aldeias, nas praias livres entre o lago e as montanhas, nas Sinagogas repletas e nas praças movimentadas.



Atendera a todos que Lhe buscaram socorro.



Todo o Seu Apostolado de amor foi de enobrecimento.



À mulher desprezada e em aviltamento, ofereceu as mais belas expressões da sua Mensagem.



Consolou e esclareceu a Samaritana atormentada.



Retirou dos coxins de veludo e seda a obsedada de Magdala.



Convidou Marta às questões do Espírito.



Atendeu à mulher Cananéia, prodigalizando o equilíbrio à filha endemoniada.



Hanah, a sogra de Pedro, recebeu-Lhe o passe curador.



À pobre hemorroíssa sito-fenícia restituiu a saúde.



Ofereceu à viúva de Naim o filho considerado morto.



Joanna, a mulher de Cusa, recebeu-Lhe o convite para a vida imperecível.



A filha de Jairo prodigalizou a bênção do despertamento das malhas da catalepsia.



Além delas, distendeu o amor a todos os corações.



Leprosos e sadios participaram do Seu convívio.



Homens ilustres e mendigos foram comensais da sua afeição.



Recuperou a serenidade no homem de Gadara, infelicitado por Espíritos obsessores e curou o filho do Centurião.



Elucidou o afortunado príncipe do Sinédrio em colóquio fraterno, e propiciou luz aos olhos fechados de mísero cego das estradas de Jericó.



Honrou a rica propriedade de Zaqueu e fez refeições nos barcos humildes dos pobres pescadores.



Revelou a Boa Nova aos sábios de Jerusalém que a escutaram deslumbrados e, à última hora, ensinou aos malsinados ladrões, companheiros de crucificação, a porta estreita para a liberdade espiritual.



Movimentou os membros paralisados de Natanael, descido pelo telhado, e revelou aos discípulos do Batista os sinais que O identificam como o Esperado...



Milhares de alma receberam a paz e a saúde de Suas mãos.



Os "demônios" submetiam-se a sua voz.



O mar respeitou-Lhe a ordem.



O vento atendeu-Lhe o imperativo.



As doenças desapareciam ao Seu contato.



Os anjos obedeciam-Lhe à vontade.



No entanto, à hora da angústia, sorveu a taça de amargura a sós.



O coração feminino, junto à Cruz, apresentou-Lhe apenas a saudade e a aflição, em lágrimas.



Mas provou a agonia, o escárnio e a humilhação em suprema soledade.



Nenhuma voz se ergueu para defendê-lO nas Altas Cortes.



Todavia, entregando-se confiante ao Pai, venceu o mundo e todos os seus enganos e, mesmo depois da morte, ressurgiu glorioso, voltando ao amor para a felicidade de todos.



Lembra-te dEle.



Só no mundo, e o Pai com Ele.



À hora das tuas provações, os companheiros e beneficiários do teu carinho não podem ficar contigo; seguirão adiante. 


A vida espera mais além.



Tem paciência!



Não os ames menos por isso, Eles necessitam da tua compreensão e do teu carinho.



Cresce para ajudar no crescimento deles.



E mesmo que a morte venha às tuas carnes, renascerás das cinzas da sepultura, em esplêndida madrugada, para continuares o teu labor junto àqueles que te abandonaram.



Na tua solidão, entretanto, Jesus estará sempre contigo.



FRANCO, Divaldo Pereira pelo Espírito Joanna de Ângelis. Messe de amor



FONTE

MANSÃO DO CAMINHO. Disponível em <https://www.facebook.com/MansaoDoCaminho/photos/a.373704069320420/728365767187580/?type=3&locale=pt_BR>. Acesso: 28 MAR 2024.

A Lagarta - Casimiro Cunha




A Lagarta 

Casimiro Cunha

 

A árvore é grande e bela, mas, na copa que se alteia, intromete-se a lagarta escura, disforme e feia.


No troco maravilhoso, folhas verdes, flores mil. . .


O traço predominante é a nota primaveril.


E basta uma só lagarta de minúscula expressão, por fazer, na árvore toda, estrago e devastação.


De fato, o conjunto verde é nobre, forte e preciso; mas, em todos os detalhes, há sinais de prejuízo.


A lagarta rastejante, mostrengo em miniatura, vai de uma folha a outra, dilacerando a verdura.


As flores, embora belas, perfumosas e garridas, aparecem deformadas, nas corolas carcomidas.


O passeio da lagarta, que demora e persevera, perturba toda expressão da filha da primavera.


Por mais que enflore e se esforce, a árvore peregrina trai, aos olhos, a existência do verme que a contamina.


Encontramos na lição, desse pobre vegetal, o homem culto e bondoso com o melindre pessoal.


Há muitas almas na Terra, de feição nobre e segura, mas o melindre é a lagarta que as persegue e desfigura.


XAVIER, Francisco Cândido pelo Espírito Casimiro Cunha. Cartilha da natureza. São Paulo/SP:Butterflay editora Ltda,2002, ed.1. Cap 28, p.29.



quarta-feira, março 27, 2024

Momentos de Saúde -Joanna de Ângelis






Momentos de Saúde

Joanna de Ângelis


A conquista da saúde integral é a meta ambicionada pela criatura humana.


Conseguir a harmonia entre o equilíbrio orgânico, o emocional e o psíquico, num quadro geral de bem-estar, constitui um grande desafio para a inteligência humana que, milenarmente, vem recorrendo às mais variadas quão complexas experiências, que têm resultado em admiráveis e valiosas conquistas.


Desse labor específico aliado a outros da ciência apoiada à tecnologia, relativamente ao meio ambiente, aos fatores destrutivos, a vida humana atinge hoje os mais elevados índices de longevidade de todos os tempos.


O homem tem conseguido banir da Terra enfermidades que dizimavam, no passado, povos inteiros, em permanente ameaça de extinção do gênero humano.


A precisão de diagnóstico e o uso de sofisticados aparelhos vêm logrando o milagre de detectar graves enfermidades antes da sua calamitosa manifestação, ou no seu início, ao lado de terapêuticas avançadas, que prolongam a existência carnal, diminuem as dores e preservam os órgãos, mesmo quando afetados.


Certamente, novas doenças surgem e tomam conta das paisagens humanas, no entanto, sendo estudadas e combatidas sem trégua.


Por instinto, o ser procura evitar o sofrimento ou liberar-se d’Ele, utilizando-se de todos os recursos imagináveis.


O temor do desgaste, da dor e da morte apresenta-se ínsito em todos, sob o comando da necessidade de preservação da vida, o que é uma bênção, evitando, ao máximo, os atos de desespero extremo, que resultam no suicídio, esse nefando inimigo da caminhada evolutiva do espírito.


Graças à inferioridade humana permanecem os fatores de perturbação e desordem na área da saúde, desenvolvendo as enfermidades dilaceradoras.


À medida que a criatura se autodescobre e se autopenetra com os equipamentos do amor, constata que a saúde é uma conquista interior, que se reflete no corpo como resultado da harmonia íntima.


Felizmente, a ciência médica alarga o seu elenco conceptual em torno da saúde e da doença, recorrendo a outras disciplinas, que contribuem eficazmente para o bem-estar dos seres.


As modernas constatações da Psicossomática vêm demonstrar que as ocorrências patológicas, nas áreas psíquica e emocional, facilmente se transferem para a orgânica, ensejando campo para a instalação de doenças de gênese variada. 


Perturbado o equilíbrio energético de sustentação das células, os fatores imunológicos, sob bombardeio de descargas mentais destrutivas, alteram-se, facultando a instalação e desenvolvimento dos agentes mortíferos, que produzem a degenerescência do organismo.


Em razão disso, torna-se imprescindível o estabelecimento de uma era de nova consciência da responsabilidade, a fim de que, lúcido e equilibrado, o indivíduo defina os paradigmas de uma conduta moral e mental harmônicas, para a aquisição do valioso patrimônio da saúde.


Jesus, em todo o Evangelho, exalta a harmonia moral e emocional da criatura perante a Vida como fator essencial para a sua salvação — o estado de saúde integral.


Psicoterapeuta incomum, propôs o auto-exame em forma de receita para a aquisição da paz, como decorrência das propostas do amor a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.


Síntese de ímpar sabedoria, o amor é a chave para o enigma da enfermidade-saúde.


Posteriormente, atualizando o pensamento do Mestre, Allan Kardec estabeleceu, na Caridade, a terapia para a paz e o modelo de aplicação correta para o amor.


Modernamente, diversas ciências são concordes com esses programas, especialmente as Psicologias Transpessoal, Transacional e Criativa, concitando ao auto-encontro, à libertação do entulho mental e moral, à conquista do ego e plenificação do self, do eu espiritual eterno, no seu inevitável processo de crescimento.


Desejando participar desse abençoado esforço desenvolvido pelos sacerdotes da área da saúde, apresentamos ao caro leitor esta modesta contribuição, que nada inova, porém, pretende fazer uma ponte entre as excelentes contribuições do conhecimento tecnológico com os ensinamentos sábios de Jesus e de Allan Kardec, diminuindo o abismo entre a Ciência em si mesma e a Religião, a fim de que avancem unidas, beneficiando as criaturas e a sociedade, que marcham na busca de um amanhã feliz.


Esperando que estes momentos de saúde sejam o pórtico para a conquista da saúde integral, sentimo-nos compensada pelo prazer de participar na obra do Senhor como servidora menor e dedicada.


Joanna de Ângelis


Salvador, 22 de outubro de 1992.


FRANCO, Divaldo Pereira pelo espírito Joanna de Ângelis. Momentos de saúde. Introdução,1992, p.02.


terça-feira, março 26, 2024

Saudades de Jesus - Joanna de Ângelis






Saudades de Jesus

 Joanna de Ângelis


           
No tumulto que assola em toda parte no planeta terrestre, desequilibrando o comportamento humano, parece não haver espaço para a harmonia, tampouco segurança para a vivência espiritual que dignifica e tranquiliza o Espírito.



As distrações confraternizam com as tragédias e os sorrisos misturam-se às lágrimas, numa paisagem de ilusão e dor, que empurram suas vítimas para o desencanto, a saturação, empobrecimento moral, o vazio existencial.



Multiplicam-se, assustadoramente, os agentes da hipnose do consumismo, em fuga espetacular da realidade, transformando-se em mecanismos impotentes para preencher as lacunas da alma sedenta de paz.



Ignorando-se como adquirir a harmonia íntima, a avalanche dos prazeres apresenta-se como a melhor maneira de desfrutar-se das horas que se vive, não conseguindo, porém, proporcionar bem-estar, por causa da sua fugacidade.



O número incontável de pessoas que não possui, porque desconhece, o sentido profundo da reencarnação, encanta-se com essas fantasias que logo são substituídas por outras, ansiosas e instáveis, que desaparecem na voragem dos conflitos em que sucumbem, sem consciência do que lhes acontece.



Os espetáculos de gozo imediato e fugidio apresentam-se, sempre, multiplicados, atraindo aficionados, que se tornam vítimas do seu fascínio, logo transformado em solidão e mentira.



Os deuses da economia alertam e aprisionam os apaixonados pelo ter e pelo poder nos seus cofres e máquinas de ações e de títulos, entusiasmando-os a ponto de se escravizarem aos jogos das bolsas e negócios variáveis que propõem, segundo eles, a felicidade.



Firmam o conceito de que aqueles que são aquinhoados com a fortuna desfrutam da plenitude porque podem adquirir tudo quanto emociona.



Paraísos de indescritível beleza são-lhes oferecidos para os períodos de férias ou as permanentes férias com a ausência dos sentimentos elevados.



Olvidam que dinheiro nenhum consegue apagar a culpa no imo, oferecer afeto real e de profundidade.



Somente quando a razão abraça a emoção, em perfeita identidade de propósitos, é que o ser pode experimentar plenitude que não tem as aparências das satisfações fisiológicas e das apresentações exteriores em que o orgulho e a presunção destacam-se na sociedade.



O homem e a mulher necessitam de ideais engrandecedores para nutrir-se e crescer interiormente.



As aspirações meramente materiais, as que promovem o exterior, assim que conseguidas perdem o sentido e os abandonam sem consideração.
É nesse sentido que o Evangelho faz falta à sociedade moderna.


* * *


Quanta saudade de Jesus!


A Sua mensagem de ternura e amor, repassada de misericórdia, possui o condão mágico de alterar o significado de todas as existências.



A ingenuidade inserta na sabedoria dos Seus ensinamentos é um poema de atualidade em todos os tempos, que comove, propicia equilíbrio e restaura a compreensão em torno dos deveres que a todos cabe desempenhar.


Porque elegeu os infelizes, ergueu-os do caos em que se encontravam ao planalto da dignidade libertadora, fez-se o mais desafiador exemplo de bondade que o mundo conheceu, e tornou-se modelo para incontáveis discípulos fascinados pelo Seu exemplo, que tentaram repetir a incomparável façanha da compaixão e da caridade.


Revolucionou as convicções, nas quais predominavam o ódio e a vingança, e estabeleceu que o amor e o perdão constituem os elementos, únicos, aliás, p ara a completude individual e coletiva.


Utilizou-se de palavras simples para explicar os dramas complexos, assim como de imagens do cotidiano para elucidar os enigmas dos comportamentos em desvalor, que predominavam, e ninguém jamais falou conforme Ele o fez, emoldurando as palavras com as ações candentes da compreensão do sofrimento humano.


Ninguém valorizou a pobreza e os testemunhos de dor como instrumentos de elevação moral, como Ele o fez.


Nestes dias de complexas angústias, não são diferentes as aflições que necessitam da presença e do socorro de Jesus.


Pode-se afirmar que são mais afligentes, em razão das circunstâncias culturais e comportamentos alienantes, dos desafios e dos impositivos enfrentados, dos interesses em jogo, sob o domínio do ego.


Todos esses fatores, porém, têm as suas raízes no cerne do Espírito, resultado do seu atraso moral dos atos reprocháveis, do descaso pelos valores dignificantes que devem servir de roteiro seguro para a evolução.


Ante a ausência dos afetos que lenificam as aflições morais, dos desastres resultantes dos vícios e prisões emocionais, a figura inolvidável do Rabi faz muita falta aos deambulantes carnais.


Incontáveis mulheres equivocadas e criaturas endemoniadas encontram-se necessitadas do Seu amparo, cuja grandeza enfrentou a hipocrisia vigente em imorredouros testemunhos de afetividade.


Ricos, como Zaqueu, e miseráveis como todos aqueles que Lhe buscaram o auxílio enxameiam e movimentam-se sem norte ante a indiferença dos poderosos, não menos atormentados.


Quanta saudade de Jesus!



* * *








Refugia-te no Amigo que não teve amigos e deixa que Ele te conduza.



Nada te perturbe ou confunda a tua mente, face à corrosão do materialismo dominador.


Medita na Sua vida de dedicação a todos os infelizes, que somos quase todos nós, e propaga-a porquanto, jamais, como na atualidade, Jesus necessitou tanto ser conhecido, para que a existência humana passe a ter sentido na sua imortalidade.




FRANCO, Divaldo Pereira pelo Espírito Joanna de Ângelis. Psicografia de Divaldo Pereira Franco, na sessão mediúnica de 25.5.2015, no Centro Espírita Caminho da Redenção,  em Salvador, Bahia.



segunda-feira, março 25, 2024

A bênção da gratidão - Joanna de Ângelis






A bênção da gratidão

Joanna de Ângelis


Entre os sentimentos nobres que caracterizam o ser psicológico maduro, a gratidão destaca-se como um dos mais relevantes.


A vida, em si mesma, é um hino de louvor à Vida, portanto, de gratidão incontida.


Vida, porém, é vibração de harmonia presente em todo o Universo.


Limitada nas diversas expressões pelas quais se manifesta, é um desafio em constante desdobramento na busca de significado.


Quando o processo de crescimento emocional liberta o Espírito da sombra em que se aturde, nele se apresenta a luz da verdade, que é o discernimento em torno dos valores significativos que o integram no concerto harmônico do Cosmo.


Buscando a perfeita identidade, na fusão equilibrada do eixo ego/Self, dá-se conta que viver é experienciar gratidão por tudo quanto lhe sucede e tem oportunidade de vivenciar.


A gratidão, dessa maneira, é a força que logra desintegrar os aranzéis da degradação do sentido existencial.


Filha da maturidade alcançada mediante a razão, sobrepõe-se ao instinto, é conquista de elevada magnitude pelo propiciar de equilíbrio que faculta àquele que a sabe ofertar.


Comumente, na imaturidade emocional, acredita-se que a gratidão é uma retribuição pelo bem ou pelos favores que se recebem, consistindo em uma forma de devolução, pelo menos em parte. Inegavelmente, quando se devolve algo dos recursos recebidos, que têm significados saudáveis, opera-se no campo do reconhecimento. 


No entanto, trata-se de uma convenção, efeito do jogo mercadológico da oferta e da procura ou vice-versa.


O instinto de preservação da existência, trabalhando em favor dos interesses imediatistas, age, não poucas vezes, utilizando-se de ações retributivas, especialmente quando estimulado ao prazer.


A gratidão é um sentimento mais profundo e significativo, porque não se limita apenas ao ato da recompensa habitual. 


É mais grandioso, porque traz satisfação e tem caráter psicoterapêutico.


Todo aquele que é grato, que compreende o significado da gratidão real, goza de saúde física, emocional e psíquica, porque sente alegria de viver, compartilha de todas as coisas, é membro atuante na organização social, é criativo e jubiloso.


Predomina, porém, nas massas, que infelizmente diluem a identidade do indivíduo, confundindo os valores éticos e comportamentais, a ingratidão, filha inditosa da soberba, quando não do orgulho ou da prepotência, esses remanescentes do instinto, transformados em sombra perturbadora. 


Em consequência, vivem em inquietação, perturbam-se e desequilibram os demais, cultivando as enfermidades parasitas da agressividade, da violência ou da autocompaixão, entregando-se aos conflitos e realizando mecanismos de transferência de responsabilidades. 


Impossibilitados de compreender a finalidade existencial, a busca de um sentido para a autorrealização, fazem-se omissos, até mesmo no que diz respeito aos seus insucessos, entregando-se a condutas esdrúxulas que pensam poder escamotear os conflitos que os assinalam.


Essa estranha conduta é responsável por alguns mitos que remanescem no inconsciente, e esses arquétipos desculpistas constituem-lhes recursos de auto apaziguamento, dessa forma tentando conciliar a consciência que exige lucidez com o ego que prefere a ilusão.


O Self imaturo sofre o efeito do ego dominador e atribui-se méritos que não possui, acreditando-se credor de todas as benesses que lhe são concedidas, sempre anelando por mais recursos que lamentavelmente não o plenificam. 


Nesse estágio, haure bens que não sabe usar, e amontoam-se em armários ou em bancos, acumulando presunção e  despotismo, sem se integrar no conjunto social em que se movimenta. 


E quando o faz, destaca-se pelo orgulho e pelo falso poder externo, compensando as angústias internas com a bajulação e o aplauso dos outros, que se transformam em estímulo para exibir as qualidades que gostaria de possuir.


Aspira sempre por ter mais, sem a preocupação de ser melhor.


Busca ser respeitado, o que equivale a dizer temido, antes que ser amado, pela dificuldade que tem de amar, o que lhe propicia insegurança e mal-estar disfarçados com os vícios sociais, tais o álcool, as drogas da moda, o tabaco, o sexo apressado e destituído de sentimento emocional compensatório.


Recolhe onde não semeou, por acreditar-se possuidor de direitos que lhe não cabem, impedindo-se o dever de repartir solidariedade e harmonia.


Assume postura agressivo-defensiva, de modo que amealhe sem oferecer, descobrindo inimigos onde existem apenas desconhecidos que não foram conquistados e simpatizantes que não foram atraídos ao seu fechado círculo de egoísmo.


Permanece armado, em vigília contínua, em vez de amando em todas as circunstâncias, ante a irradiação de desequilíbrio que é o seu estado interno.


Introverte-se, quando deveria espraiar-se como as águas generosas do regato, diluindo as fixações que o retêm na infância da evolução antropológica...


O sentido existencial é de conquistas internas, aplicadas em favor da gratificação.


À medida que se recebe, doa-se, e, na razão direta em que se é aceito e querido, mais ama e melhor agradece.


A gratidão é uma bênção de valor desconhecido, porque sempre tem sido considerada na sua forma simplista e primária, sem o conteúdo psicoterapêutico de que se reveste.


Quando se reflexiona em torno da gratidão, quase imediatamente se pensa em devolver parte do que foi recebido, o que a torna insignificante e destituída de valor.


Permanece aí a visão material imediatista, sem os conteúdos psicológicos renovadores. 


Quando observamos uma rosa exteriorizando perfume carreado pela brisa, deparamo-nos com a gratidão do vegetal que transformou húmus e água em aroma delicado.


De igual maneira, o Sol, que responde pela preservação do milagre da vida em múltiplas manifestações, oscula o charco sem assimilar-lhe os odores pútridos e acaricia as pétalas das flores sem tomar-lhes o aroma agradável. 


Essa é a sua forma de agradecer a própria finalidade para a qual foi criado...


Quando o Espírito alcança o objetivo do seu significado imortal e entende-o com discernimento lúcido, abençoa tudo e todos, agradecendo-lhes a oportunidade por fazer parte do seu conglomerado.


A gratidão deve ser um estado interior que se agiganta e mimetiza com as dádivas da alegria e da paz.


Por essa razão, aquele que agradece com um sorriso ou uma palavra, com uma expressão facial em silêncio ou numa canção oracional, com o bem que esparze, é sempre feliz, vivendo pleno. 


Entretanto, aquele que sempre espera receber, que faz e anela pela resposta gratulatória, que se movimenta e realiza atos nobres, mas conta com o alheio reconhecimento, imaturo, negocia, permanecendo instável, neurastênico, em inquietação.


Quando se é grato, nunca se experimenta nenhum tipo de decepção ou queixa, porque nada espera em resposta ao que realiza.


A busca, portanto, da autorrealização é alcançada a partir do momento em que a gratidão exerce o seu predomínio no Self, sem nenhuma sombra perturbadora, constituindo-se uma sublime bênção de Deus.




FRANCO, Divaldo Pereira pelo Espírito Joanna de Ângelis . Psicologia da gratidão. 3° ed. Salvador: LEAL, 2014. (Série Psicológica - Especial, volume 16) 240 p, p. 9-12.